Mudança Inesperada de Planos
“Devemos estar dispostos a nos livrar da vida que planejamos para poder viver a vida que nos espera” -Joseph Campbell
Hoje, quando eu acordei, recebi uma notícia inesperada. Testei positivo para uma bactéria do gênero Estreptococos (Grupo B) o que significa que meu tão desejado, sonhado e planejado parto domiciliar, não será possível.
Estreptococos do grupo B é uma bactéria comumente encontrada no trato gastrointestinal e na flora vaginal de cerca de 25% de todas as mulheres adultas saudáveis. Normalmente, essa bactéria é inofensiva e costuma aparecer e desaparecer do organismo. No entanto, se a gestante testa positivo para essa bactéria, ela pode transmitir para o bebê durante o parto. Inclusive, essa bactéria tem o potencial de causar meningite e infecção generalizada em recém nascidos, e nesses casos, pode ser perigoso.
As chances são de 1 a 2 em 100 bebês pegarem essa infecção, podendo ser reduzida para 1 em 4.000 se a mulher grávida, positiva para Estreptococos (Grupo B), receber antibióticos durante o trabalho de parto. O que significa que eu vou ter de estar em um hospital, recebendo antibióticos por via venal, por pelo menos quatro horas antes de dar à luz a minha filha.
Embora as chances de infecção sejam pequenas (1% de chance em média), não tenho outra opção a não ser mudar meus planos de ter um parto domiciliar. Pelo menos, é o que é recomendado pela minha médica obstetra.
Apesar dos aconselhamentos da minha equipe, parte de mim quer desobedecer esse protocolo com base em conselhos desatualizados, em sua maioria oriunda de organizações dos EUA. Não é segredo que as empresas farmacêuticas continuam subornando muitas dessas organizações para vender seus medicamentos em quantidades excessivas.
Além disso, mesmo que a mãe transmita a bactéria para o bebê, não significa que ele terá algum tipo de doença, a maioria dos bebês permanecem saudáveis.
Pesquisadores estimaram que a taxa de mortalidade por infecção precoce por Estreptococos do grupo B, é de 2 a 3% em bebês a termo (aqueles cuja idade gestacional é de 37 a 42 semanas). Isso significa que de 100 bebês que têm essa infecção bacteriana, 2 a 3 morrerão. As taxas de mortalidade são muito mais altas (20-30%) em bebês que nascem com menos de 33 semanas de gestação (CDC 2010).
Então, se vocês estão acompanhando meu raciocínio, há uma chance de 1 a 2% da minha bebê desenvolver alguma doença por Estreptococos. Se ela acabar infectada, há 2 a 3% de chance de morte, já que já estou com 39 semanas. Então, na realidade, há menos de 0,5% de chances dela ficar gravemente doente e morrer.
Quanto mais eu estudo e me aprofundo nas pesquisas baseadas em evidências científicas, mas eu penso: “que droga, eu não vou desistir dos meus planos por causa desse protocolo ridículo!"
Por outro lado, o que me ajuda a aceitar e seguir as orientações da minha equipe, é encontrar pesquisas que apontam que, embora a taxa de mortalidade por essa infecção bacteriana seja relativamente baixa, bebês contaminados precocemente por Estreptococos do grupo B, podem precisar passar muitos dias em uma UTI neonatal.
Os estudos também mostram que até 44% dos bebês que têm meningite e sobrevivem, acabam por desenvolver problemas de saúde a longo prazo, incluindo deficiência, paralisia, convulsões, perda auditiva, perda de visão e redução do tamanho cerebral. Já em bebês que não desenvolvem meningite, muito pouco se sabe sobre os riscos de saúde, contudo podem apresentar problemas de desenvolvimento a longo prazo. (Feigin, Cherry et al. 2009; Libster et al. 2012)
Okay, me convenci. Vou parar de pesquisar e me render a essa nova realidade. Não quero pensar na hipótese da minha filhinha precisar ir para a UTI neonatal sozinha, mesmo que não desenvolva nenhum problema de saúde. Eu sei que estou seguindo um protocolo super exagerado, mas resolvi focar nos pontos positivos da minha jornada e seguir em frente.
Alguns de vocês podem estar pensando, qual é o grande problema, Ariel? Hospitais são seguros e tomar antibióticos não é nada sério.
Isso é relativo, mas vamos conversar por partes:
1. Hospitais são lugares bons e seguros para um parto
De fato, os hospitais oferecem muitas soluções caso algo dê errado no plano físico. No entanto, na maioria dos casos, os protocolos efetuados durante e depois do nascimento do bebê são, na minha visão, violentos e insensíveis nos campos emocionais e espirituais.
Pelo que experienciei ano passado ao assistir um parto normal hospitalar na Flórida, o nível de ansiedade é super elevado. Enquanto os médicos querem acelerar o processo natural do parto, as enfermeiras vêm e vão, sem realmente se conectar com a pessoa que está dando à luz. Todos parecem ocupados e estressados.
Eles me lembram o coelho branco de Alice no País das Maravilhas. Sempre com pressa, em movimento, e olhando excessivamente para o relógio.
No entanto, uma das partes mais difíceis de assistir a um parto no hospital foi ver a médica puxar a bebê para fora do canal de parto de sua mãe usando sua força muscular. Infelizmente, não houve delicadeza da parte da doutora. Ela puxou a menina como se estivesse puxando algo que tinha grudado e tava difícil de desgrudar. Se ela tivesse esperado mais um pouquinho, a bebê teria saído sozinha e sua única responsabilidade seria estar de luva e atenta para o momento de recebê-la.
Logo depois de ter sido puxada sem nenhuma consideração, foi direto para o colo da sua mãe. Eu fiquei feliz em ver esse momento, mas logo percebi que a recém nascida ainda não teria paz. Dentro de um minuto de colo, seu cordão umbilical foi cortado antes de parar de pulsar e seu vérnix removido da mesma forma que uma pessoa tira gordura de uma panela depois de assar carne: esfregando com força e sem pensar se a panela é a favor desse experimento.
A bebê passou no máximo três minutos no colo da mãe antes de ser carregada, sozinha e em lágrimas, por enfermeiras para ser examinada sob um monte de luzes brancas brilhantes. Após cerca de quinze minutos verificando o bebê, colocando fraldas e roupas, aplicando pomadas oftalmológicas desnecessárias, as enfermeiras a entregaram de volta à mãe. Essa foi a primeira vez que a vi relaxar, bem de onde nunca deveria ter saído, dos braços da mamãe.
Vamos nos colocar no lugar dessa bebê por um momento. Ela acabou de desembarcar no planeta Terra e foi recebida de maneira agressiva, em vez de ser acolhida com suavidade e calma. Qual é a sua primeira impressão? Isso a afeta mais tarde? Será que este momento cria algum tipo de programação inconsciente de medo e dor?
Além de tudo o que acabei de mencionar, não houve absolutamente nenhum respeito pela hora de ouro; aquele momento glorioso após o nascimento. Ninguém parou para apreciar essa primeira hora especial com a família. Em vez de estarem admirando o milagre da vida, sentindo o cheiro da oxitocina e recebendo amor e luz, todos estavam muito preocupados em terminar seu trabalho.
O que ninguém na equipe percebeu é que o trabalho já estava finalizado. Todos poderiam ter feito uma pausa e comemorado a vitória de um trabalho de parto tranquilo e descomplicado. Já faz mais de um ano que participei desse parto hospitalar e ainda paro para pensar em como essa experiência impactou essa pequena vida.
Voltando à conversa sobre segurança hospitalar, os hospitais de fato oferecem muita segurança quando se trata de tratamentos físicos emergências. No entanto, na maioria dos casos, há uma falta de compreensão do que ocorre além do plano material. Pesquisas já nos dizem que tudo o que acontece nos primeiros momentos da vida de uma pessoa faz uma grande diferença durante sua existência. Por que então, não considerar todos os detalhes de como acolher os recém-nascidos que irão moldar o futuro do nosso planeta?
2. Não há nada demais tomar antibióticos
Isso é parcialmente verdade, porque apesar dos antibióticos salvarem vidas, eles também podem destruir nossa saúde.
E a prova disso é que pesquisas recentes descobriram que, embora os hospitais administrem antibióticos intravenosos às mulheres positivas para Estreptococos por mais de trinta anos, há evidências que apontam que o uso desses medicamentos afeta pelo menos por um tempo, o microbiota intestinal do recém-nascido.
Com base em minhas leituras, embora os antibióticos afetem o microbiota do recém-nascido, se o parto ocorrer por via vaginal e o bebê for amamentado exclusivamente, a probabilidade é de que dentro de três meses a um ano, seu microbiota intestinal volte ao normal. Ou seja, similar aos que não receberam intervenção medicamentosa.
Os resultados mostraram que o microbioma infantil é influenciado pela via de parto (cesariana ou parto vaginal), amamentação, bem como a exposição a antibióticos durante o trabalho de parto.
Após 3 meses, bebês que foram expostos a antibióticos durante o trabalho de parto ou nascimento, tiveram um nível reduzido de Bacteroidetes (bactérias benéficas), como também uma diminuição no enriquecimento de seu microbioma independentemente de terem sido amamentados exclusivamente ou não.
As deficiências mais graves ocorreram entre bebês nascidos por cesariana. Os bebês nascidos de cesariana apresentaram também níveis mais altos de Clostridium, Enterococcus e Estreptococcus – bactérias potencialmente nocivas.
Com um ano de idade, a maioria dessas diferenças desapareceu, mostrando que o efeito no microbioma do bebê, era de curto prazo. No entanto, alguns efeitos negativos ainda persistiram em nascimentos por cesarianas não necessárias e em bebês que não foram amamentados por pelo menos 3 meses.
Essa última pesquisa me deixa bem à vontade em relação a todas essas mudanças de última hora, já que pretendo amamentar minha filha por pelo menos um ano.
Mas… deixando toda a conversa científica à parte, se você acompanha meu blog, sabe que usei a arte da visualização para idealizar a história de nascimento da minha filha em um ambiente domiciliar.
Agora, tenho que adaptar minhas intenções anteriores a um ambiente diferente. Para ter sucesso nessa nova jornada, preciso manter a magia fluindo, independentemente dos contratempos ao longo do caminho.
“Às vezes não conseguir o que quer é uma tremenda sorte”. - Dalai Lama
Espero que Dalai Lama esteja certo, porque um parto domiciliar é algo inexplicável e quero experimentar essa emoção novamente. Como minha incrível tradutora Raquel me disse quando leu esse parágrafo, só quem teve um parto natural em casa entende a intimidade, o encantamento e a delicadeza dessa experiência.
Depois de muito aprendizado sobre campo energético, algo que consigo facilmente ver hoje em dia é, tudo é energia antes de se tornar matéria. Então eu tenho que deixar para trás o que poderia ser e manter minhas intenções limpas diante das condições atuais. Sim, minha bebê irá nascer no hospital, mas a minha experiência será muito diferente da que vi ano passado. Eu sei que quanto mais foco no sucesso, mais chances tenho de que tudo corra como visualizado.
O importante agora é garantir que haja compreensão mútua dentro da minha equipe. Já sei, que alguns dos meus desejos, tal como, segurar minha bebê após o nascimento pelo maior tempo possível, esperar que seu cordão umbilical pare de pulsar antes de cortá-lo, não remover seu vérnix e postergar vacinas que podem ser dadas num momento diferente, podem ser facilmente realizados.
Da mesma maneira, o respeito a hora de ouro, a garantia que não haja funcionários do hospital entrando e saindo do meu quarto e a atenção ao silêncio são outras predileções possíveis de cumprir. O importante é manter um diálogo claro com a minha equipe para que eu possa relaxar nessa nova situação.
No final de todo esse enredo, me sinto bem por ter escolhido um hospital que me permita liberdade para fazer escolhas fora dos protocolos padrão. Já mencionei que o hospital escolhido foi o mesmo em que eu nasci? Meu coração também se enche de alegria ao pensar em todas as pessoas da minha equipe, mulheres incríveis com ideais e valores parecidos com os meus.
P.S. No ano passado, depois de assistir a este parto hospitalar, escrevi em detalhes, todas as razões pelas quais não gosto dos protocolos hospitalares. Se você quiser se aprofundar no assunto, convido você a ler meu blog:
The Differences Between Home and Hospital Birth
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Traduzido por: Raquel Araujo